Clinical checks
Os clinical checks (CC), também chamados de pharmaceutical assessment, são um passo obrigatório e deveras importante no processo de dispensa de receitas médicas. São levados bastante a sério, e já houve casos de farmacêuticos levados a tribunal por não terem feito um correto clinical check.
O CC pode ser efetuado antes da medicação ser dispensada, ou após toda a medicação ter sido reunida e processada com etiquetas. O farmacêutico vai então determinar se o medicamento, assim com quantidade e posologia são adequados para o utente. O utente tem de receber toda a informação necessária para o uso correto do medicamento, e qualquer intervenção que seja efetuada (contactos com o médico, correções de posologia) têm de ficar registados no PMR do utente.
Os CC envolvem a identificação de problemas farmacoterapêuticos através da avaliação de toda a informação relevante, incluindo características do utente (idade, peso), condições médicas, medicação habitual, e possíveis resultados laboratoriais.
O propósito de um clinical check pelo farmacêutico é para assegurar que o medicamento é seguro e efetivo para ser tomado por aquele utente em particular, tendo sempre em conta a relação benefício/risco.
Vou partilhar convosco algumas situações que me levaram a ligar ao médico para clarificar e/ou mudar a receita no momento em que procedi ao CC.
- A utente está num regime de varfina e atorvastatina e foi-lhe prescrita o antibiótico claritromicina. A claritromicina aumenta o efeito anticoagulante da varfina, assim como vai aumentar os níveis sanguíneos da estatina. Se a utente estivesse apenas a tomar atorvastatina, recomendaria-se que parasse a estatina enquanto tomava o antibiótico, sem efeitos maiores; no entanto, não se pode pedir que pare um anticoagulante. Este foi um aspeto que passou despercebido ao médico. Em contacto telefónico, sugeri ao médico uma alteração de receita para um antibiótico mais seguro; o médico prescreveu então doxiciclina, que não interage com nenhuma da medicação da utente.
- A uma criança de 4 anos foi prescrita uma solução oral de carbamazepina 100mg/5ml, com a posologia de duas colheres de 5ml três vezes ao dia. Perguntei primeiro à mãe se ela estava à espera de uma alteração de posologia, ao que ela responde que sim, que o médico tinha passado de 2.5ml duas vezes ao dia, para 5ml duas vezes ao dia. Confirmei no BNF for Children a nova posologia, em que a dose máxima para crianças de 4 anos é de 400mg diárias, mas o médico tinha passado 600mg. Entrei em contacto com o médico e a receita foi corrigida para 5ml duas vezes ao dia.
- Foi prescrito ao utente um novo anticoagulante rivaroxabano. Este utente estava a tomar varfina e foi confirmado com o centro de saúde que o médico tinha colocado nas notas do utente que a varfina era para ser parada e o novo medicamento iniciado. No momento de entrega ao utente, este não sabia que tinha de parar o anticoagulante antigo e começar o novo. Neste momento foi-lhe explicado tudo sobre o novo medicamento e sugerido o New Medicine Service.
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